A
MEDIATIZAÇÃO E OS NOVOS DESAFIOS QUE O PROFESSOR DE EAD TEM COM AS TECNOLOGIAS
DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)
Marco Antonio Vedovelli Bottene[1]
Daniela Cristina Martins Henschel[2]
RESUMO
O presente artigo tem por objeto demonstrar os novos
desafios e tarefas que os professores de ensino superior, na modalidade EaD,
têm com a mediatização que os meios tecnológicos de comunicação e informação
proporcionam neste novo cenário educacional, complexo e exigente, aos
aprendentes deste processo de ensino. Partindo desse pressuposto, a definição
do papel do professor, ator principal no ensino tradicional, terá de ser
diferente nesta nova modalidade de ensino. Assim como, também, suas funções e
tarefas docentes no Ensino a Distância terão de ser necessariamente distintas
daquelas do ensino presencial. Desta forma, pode-se elencar que existem
diversos atores participantes nesse novo processo além da imagem tradicional do
ator principal, refletindo-se nele um novo papel e com novas funções do
professor a distância.
Palavras-Chave: Mediatização.
Educação a Distância. Tecnologia.
ABSTRACT
This article intends to demonstrate the new challenges and tasks that teachers of higher education, distance
learning modality, with the
media coverage that have the technological means of communication and information provide in this new educational scenario, complex and demanding, this process learners education.
Based on this assumption, the definition of the role of teacher, principal actor in traditional teaching,
must be different in this new mode of teaching. As also
their duties and tasks teachers in Distance
Education will necessarily be
different from those of classroom teaching. Thus, it can be to list that there are many
actors involved in this new process beyond the traditional
image of leading man, reflecting on
it a new role and new functions of the distance teacher.
Key-Words: Mediatization. Distance
Education. Technology.
As atuais
mudanças dos paradigmas educacionais no Brasil no Ensino Superior, acarretam
necessariamente profundas transformações nas funções dos professores,
introduzindo novas características, funções e estruturas em seu papel docente.
O professor, outrora fonte inquestionável de conhecimento, terá que desempenhar
outras funções no sentido de orientar e estimular o aprendente no sentido de
fomentar novas pesquisas para proporcionar a transformação da informação em
conhecimento.
O presente artigo aborda
os novos desafios que os professores do Ensino Superior na modalidade a
Distância terão que enfrentar frente a desconfiança e resistência à introdução
de inovações tecnológicas em suas práticas. Em geral, os docentes reagem
negativamente à mudança, especialmente à diminuição dos conteúdos curriculares,
pois não estão habituados a dividir suas responsabilidades com outros atores
educacionais e muito menos, ainda, com profissionais de outras áreas, partilha
esta, indispensável à produção de materiais pedagógicos e de serviços de
tutoria.
A formação continuada, a busca pelo
eterno aprender, o envolvimento com as equipes de projetos inovadores poderão
contribuir fortemente para uma evolução no papel e na mentalidade desse novo
corpo docente que se forma nas Instituições de Ensino Superior. Em EaD, o
professor deverá tonar-se um parceiro do aprendente no processo de construção
do conhecimento, incentivando as atividades de pesquisa na busca da inovação
pedagógica.
Para tanto, usou-se fundamentação
teórica baseada em referencial bibliográfico de autores consagrados, mestres e
doutores, nacionais e estrangeiros. Esse trabalho, longe de esgotar o assunto,
pretende colaborar para que o tema possa abrir novos caminhos dialéticos para
promover uma discussão sobre a necessidade dessa adaptação.
Ao longo da história a Educação sempre foi um
processo complexo e que utiliza a mediação de algum tipo de meio de comunicação
para complementar e dar suporte à ação do professor em relação à sua interação
pessoal e direta com os aprendentes. Dentro da própria sala de aula do ensino
presencial pode-se considerar uma “tecnologia”, da mesma forma que o quadro
negro, o giz, o livro, o registro de chamada e outros materiais que podem ser
considerados ferramentas pedagógicas que proporcionam a mediação entre o
professor e o aprendente.
Na EaD, ao contrário do ensino
presencial, a interação com o professor é indireta e, por esse motivo, tem que
ser mediatizada por uma combinação de diversas tecnologias que precisam estar
adequadas à comunicação que se pretende fazer, o que torna esta modalidade de
educação muito mais dependente da mediatização do que a educação convencional,
de onde decorre a grande importância e dependência dos meios tecnológicos
(BELLONI, 2008).
Conforme o pensamento de Fiorentini
(2003, p. 17), “... o professor é um profissional do qual se exige muito mais
que seguir receitas, guias e diretrizes, normas e formas como moldura para sua
ação, pois é sujeito protagonista e assumi-lo produz uma mudança de
perspectiva”.
O domínio, por si só, por parte do
professor, das ferramentas tecnológicas necessárias para promover a
mediatização, não garante a solução e compreensão de problemas práticos frente
aos quais os profissionais da educação refletem nos aprendentes um diálogo
crítico com a sua realidade. Há a necessidade de o professor refletir sobre
como ele percebe a área do conhecimento em que atua para aprender sua
verdadeira prática, sobre os meios e modos tecnológicos de produção vigentes e
disponíveis, como suporte para superar o nível intuitivo, construir e
estratificar os enfoques que devem ser valorizados, enquanto concebe cursos e
elabora textos educativos. A EaD não deve se tornar uma fonte educativa que
transforma o conhecimento em uma mercadoria na lógica reprodutiva do
capitalismo neoliberal, mas sim, utilizar-se da mediatização, através de todos
os recursos tecnológicos disponíveis,
tornar-se uma práxis emancipadora, isto é, por meio da palavra da ação e
dos processos cognoscitivos do ser humano, proporcionem ao homem e ao mundo a
possibilidade de libertarem-se de toda e qualquer opressão. (FREIRE, 1993).
2.1 A MEDIATIZAÇÃO COMO UM PRODUTO
INTERATIV0
Na educação a distância a interação existente
entre o mestre o aprendente ocorre de modo indireto, pois não existe o contato
físico entre eles. No espaço, existe a distância descontínua, e no tempo há uma
comunicação diferida, não simultânea, o que colabora para aumentar a
complexidade já existente neste processo de ensino.
O escopo principal do ensino à
distância, como vimos, está focado para a descontinuidade, alunos dispersos que
não podem deslocarem-se para reunirem-se, no entanto, cabe resaltar que é de
extrema importância que o professor desta modalidade de ensino facilite,
através de seus recursos mediatizados, o contato regular e eficiente dentro de
sua plataforma tecnológica de ensino, proporcionando uma interação satisfatória
e que possa propiciar uma segurança psicológica entre os aprendentes e a
instituição de ensino, pois desta forma, ele conseguirá manter a necessária
motivação do aluno, condição está fundamental para sucesso da aprendizagem a
distância (BELLONI, 2008).
Segundo Valente (2005, p. 28) apud
Silva (2009, p. 80), “ o estar junto virtual envolve o acompanhamento e
assessoramento constante dos membros do grupo, na sentido de poder entender o
que cada um faz, para ser capaz de propor desafios e auxiliá-lo a atribuir o
significado ao que está realizando”.
O ensino a distância ao utilizar
um AVA[4]
proporciona ao aprendente uma condição indispensável para a interação com o
mestre, caracterizando-se pela formação de atitudes necessárias para a formação
do estudante autônomo. O desenvolvimento da pesquisa, a capacidade de organizar
e de pensar de maneira crítica e autônoma, faz com este novo agente desenvolva
a interatividade com as pessoas participantes desse novo processo, professores
e colegas.
As TICs[5]
estão inseridas no AVA para serem usadas de maneira a estimular a comunicação,
proporcionando trocas de informações rotineiras, além de estimular a
aprendizagem colaborativa de forma a promover o construtivismo entre os
participantes. Estas tecnologias fazem com que o aluno possa ser responsável
por seu próprio estudo, criando metodologias de estudo e dividindo o tempo que
ele achar necessário para o aquilatamento de sua aprendizagem e formação de seu
conhecimento (SILVA, 2009).
Pode-se dizer, ainda, conforme o
pensamento de Palloff e Pratt (2002, p. 28) citado por Silva (2008, p. 82) que:
É por meio dos
relacionamentos e da interação que o conhecimento é fundamentalmente produzido
na sala de aula on-line. A comunidade de aprendizagem toma uma nova proporção
em tal ambiente e, como consequência, deve ser estimulada e desenvolvida a fim
de ser um veículo eficaz para a educação.
2.2 FERRAMENTAS DA MEDIATIZAÇÃO
As ferramentas da mediatização que
são utilizadas através da internet viabilizam muitas possibilidades de
interação, além disso, favorecem o processo dialógico extremamente necessário
em qualquer ambiente virtual. Dentre as diversas ferramentas disponíveis neste
processo, destacar-se-á duas espécies importantes, as ferramentas Síncronas e
as ferramentas Assíncronas.
2.2.1 Ferramentas Síncronas
O elenco de características das
ferramentas síncronas descritas abaixo está de acordo com o pensamento de
Villardi e Oliveira (2005) apud Silva (2009).
ü
Sala
de aula virtual: O professor e seus alunos podem se encontrar em um espaço
virtual em horários pré-determinados para se interagirem em tempo real. Esta
ferramenta deve ser utilizada para que seus atores possam discutir assuntos com
os quais os alunos já tiveram contato anteriormente. Pode ser utilizado,
também, para fazer o fechamento dos módulos ou para abordagem de atividades
temáticas.
ü
Sala
de trabalho: Esta ferramenta deve ser disponibilizada para que os alunos, sem a
presença do professor, possam se reunir em tempo real para a elaboração de
tarefas, trabalhos, bem como o desenvolvimento de estudo ou atividades em
conjunto.
ü
Café
virtual: É um espaço destinado a descontração de alunos e professores. Neste
espaço deve-se promover o convívio entre os participantes, proporcionando
conversas informais como se estivessem
na cantina de uma instituição presencial.
ü
ICQ[6]
interno: Esta ferramenta possibilita que cada usuário saiba quem está conectado
em cada momento, facilitando a comunicação dos aprendentes em situações de
dificuldades.
ü
Tutor
on-line: Possibilita ao aluno
identificar se existe um tutor específico que esteja conectado no momento em
que o aluno está on-line, facilitando
a comunicação e possibilitando que as dúvidas do aprendente sejam respondidas
imediatamente.
2.2.2 Ferramentas Assíncronas
Ainda de acordo com os autores
anteriormente citados, podem-se elencar as ferramentas assíncronas como sendo:
ü
E-mail:
Esta ferramenta deve ser utilizada para manter um vínculo dos alunos com o
curso por meio de sua comunicação com a instituição e com os tutores.
ü
Lista
de discussão: Permite que um aluno participante do grupo possa propor através
de e-mail uma questão para ser discutida por todos os participantes do grupo.
ü
Mural:
Permite que qualquer comunicação possa ser dirigida a alguém em especial ou a
todos do grupo. Esta ferramenta deve ser utilizada para lembrar datas
importantes ou para marcar encontros síncronos com os participantes do curso.
ü
Fórum:
O principal objetivo desta importante ferramenta e permitir que os alunos
possam fazer reflexões a respeito de um determinado assunto, possibilitando o
construtivismo e aumentando a dimensão dos conhecimentos.
ü
Debate
virtual: possibilita ao aluno virtualizar o procedimento do texto comentado
utilizando-se de dinâmicas presenciais. Neste espaço o aprendente pode inserir
comentários e sugestões relacionadas ao fragmento de texto escolhido pelo
professor.
ü
Avaliação
Virtual: esta ferramenta permite avaliar o aluno disponibilizando questões,
objetivas ou dissertativas, com data limite, para que sejam respondidas. Depois
de corrigidas os gabaritos são disponibilizados no AVA para que o aluno saiba
seu rendimento.
ü
Perfil:
Nesta ferramenta são disponibilizadas informações pessoais dos alunos. O
objetivo é permitir que os alunos se conheçam e sejam apresentados uns aos
outros, facilitando, desta forma, a escolha de colegas para formação de grupos
de estudo através do perfil de cada um.
ü
Biblioteca
virtual: Possibilita a publicação virtual do acervo a ser estudado no curso. É
composto por matérias, fragmentados ou não, do professor e também, em alguns
casos, por matérias elaboradas pelos alunos, que devem ser lidos e aprovados
pelo professor antes de serem publicados.
ü
Portfólio:
è um arquivo que possibilita ao aluno registrar toda a sua evolução acadêmica
durante o curso. Esta ferramenta é muito útil para a elaboração a avaliação
pessoal, ou autoavaliação, pois permite ao aprendente perceber sua
transformação e sua percepção da realidade pela interação com o grupo,
permitindo a promoção da metacognição.
ü
Tira
Teima: É um banco de dados que contém as dúvidas mais frequentes que alunos de
diferentes turmas fizeram, em outras situações, e que se encontram respondidas
e disponíveis na plataforma de estudos.
Todas essas ferramentas, tanto
síncronas como assíncronas têm como objetivo atender fundamentalmente às
necessidades da comunicação, informação, armazenamento e interação dentro de um
ambiente virtual de aprendizagem, possibilitando aos seus usuários a
transformação de tudo isto em conhecimento. No entanto, para essa metamorfose
possa concretizar-se é necessário que os professores desta modalidade de ensino
conheçam profundamente suas ferramentas de interação, pois o AVA por si só, por
melhor que seja, não garante essa transformação, é necessário a intervenção
humana, através da figura do professor, para que, através do correto uso dessas
ferramentas possa consolidar a transformação do conhecimento em cada
aprendente.
3
O NOVO PARADIGMA DO PROFESSOR DE EAD
Tanto o ensino presencial como a EAD,
a função principal da universidade é a produção e transformação do conhecimento
como missão libertadora da vida humana. A universidade existe como entidade
transformadora à medida que pratica atos cotidianos de pesquisar, ensinar e
divulgar informações úteis para a sociedade e que possam ser revertidas em
conhecimentos que possibilitem a formação de uma sociedade crítica e livre de
todo e qualquer preconceito, não deixando, no entanto, de priorizar as condutas éticas do
pesquisador.
De acordo com o pensamento de Luckesi
et al (2012, p. 63) :
Compreender o que é
conhecimento, assim como seu papel na vida humana, é ponto de partida para
poder servir-se de recursos metodológicos para compreendê-lo e produzi-lo,
tendo em vista colocá-lo a serviço da vida. ...Os autores acreditam que o papel
do educador é auxiliar cada educando a compreender isso, verificando a
importância do ato de conhecer para si mesmo e para o seu relacionamento com o
mundo. Conhecer é um ato fundamental e libertador na vida humana. Quem conhece
sabe o que fazer, assim como o modo de agir.
O docente na EaD não é mais o único
agente responsável pelo ensino nesta modalidade, ao contrário, está envolvido
em uma segmentação cada mais maior com múltiplos atores participando em
inúmeras tarefas no processo da construção do conhecimento. Na EaD percebe-se
claramente uma transformação da antiga característica do docente do ensino
presencial como sendo uma entidade individual, com características
individualizadas, em um professor que se torma uma entidade coletiva,
multifacetado, que adiciona um grande conjunto de pessoas, todas podendo
reivindicar sua contribuição ao ensino (MARSDEN ,1996 APUD BELLONI, 2008).
3.1 O ARQUÉTIPO RACIONAL OU FORDISTA
Pode-se considerar que um dos modelos
mais utilizados pela EaD ainda é o modelo racionalizado ou fordista. Este
modelo está baseado exclusivamente na divisão do trabalho, tipo uma linha de
montagem do ensino, e, desta forma, desligado da figura do professor, outrora
figura principal do ensino presencial, o que o exclui totalmente de um ensino
subjetivo, tornando-se totalmente um processo de ensino objetivo. Essa “linha
de produção do ensino” permite o planejamento racional para alcançar um grande
número de aprendentes, visando muito mais a quantidade do que a qualidade. De
acordo com os princípios taylorista, neste modelo cada especialista torna-se
responsável por uma área específica e limitada dentro de um complexo processo
de construção, planejamento, realização de cursos e matérias (PETERS, 1983 APUD
BELLONI, 2008).
As funções do professor neste processo
de divisão das tarefas vão ser adaptadas às funções de selecionar, organizar e
transmitir o conhecimento que por sua vez, limitam-se aos currículos dos cursos
e dos textos que constituem a base dos matérias pedagógicos realizados dentro
dos recursos mediatizados que ele dispõem, como, por exemplo, livro-texto,
vídeos, programas de informática, etc. Desta forma, a função de orientação e
aconselhamento, tão importantes na formação do aluno, passa a ser exercida não
mais em contatos presenciais, mas através de atividades de tutoria a distância,
optando-se pelo individualismo ao coletivo, e, mediatizada de acordo com os
recursos informáticos disponíveis.
Uma das funções mais difíceis desse
novo professor é saber interagir com funções que são exercidas por outras
pessoas, muitas vezes desconhecidas daquele agente, quando se trata da
elaboração de materiais de vídeo e áudio, materiais informáticos, como por
exemplo, programadores, realizadores, editores, operadores, copistas, etc.
Embora muitas dessas funções sejam meramente técnicas, elas têm forte
influência na qualidade do produto final e exige do professor um trabalho de
integração e coordenação extremamente difícil.
Enquanto que no ensino presencial o
professor trabalha de forma intuitiva e geralmente com grupos pequenos de
alunos, na EaD ele trabalho com grupos muito grandes de estudantes, o que o
impede de exercer a docência de forma artesanal, passado a exigir deste ator a
necessidade de um processo de trabalho racionalizado e segmentado. A visão
fordista centralizado não impede que o professor possa evoluir para uma forma
de organização mais flexível e descentralizada, mas é importante salientar-se
que esta opção não será uma tarefa fácil (BELLONI, 2008).
3.2 PARCERIA NO PROCESSO DE CONTRUÇÃO
DO CONHECIMENTO
O novo papel que o professor da EaD deve ter
com seus estudantes é buscar construir uma parceria no processo de construção
do conhecimento, através de atividades de pesquisa e na busca de novos
processos e modelos pedagógicos para proporcionar uma metamorfose completa no
processo educativo do professor para o aluno, do ensino para a aprendizagem,
que precisa ser analisada, repensada e criticada o suficiente para se tornar
possível a criação de novos métodos para o exercício da atividade docente, que
deve ser realizado através de práticas inovadoras, mais apropriadas às novas
realidades sociais, às rápidas mudanças do comportamento dos alunos, e,
portanto, tornarem-se eficazes para o desenvolvimento social e libertador da
população.
Dentro desta ótica, o papel do
professor da EaD não pode mais ser comparado com o papel de seu colega
presencial, uma vez que o discurso daquele, atemporal e em unidade de lugar
diferente da do aprendente, diferentemente deste, que discursa para um pequeno
grupo e o muda todo tempo, deve ser feito com muito mais cuidado, uma vez que
vai ser visto por muito mais tempo e refletido quantas vezes for necessário
pelos aprendentes, muitas vezes inseridos em outra realidade social.
Aproveitado de uma metáfora teatral da tragédia clássica Bladin, (1990, p. 66)
apud (Belloni, 2008, p. 82) escreve
As três unidades da
tragédia clássica, a unidade de tempo, a unidade de lugar e a unidade de ação,
que regem ainda hoje a maioria das ações de formação, vão, pois, deixar de ter
sentido. O papel do docente e do formador também, que, ora transmitirá sua
mensagem a um público destinado a só recebê-la algum tempo depois, ora poderá
gozar de um dom da ubiquidade e participar ao mesmo tempo de várias ações
ocorrendo em diferentes lugares.
Ainda segundo este autor, a
utilização dos recursos mediatizados é uma nova revolução copérnica do ensino,
utilizando-se de uma nova lógica no universo educacional que pode ser
sintetizada como uma parceria do professor com os alunos utilizando-se a
fórmula ensinar a prender.
É notório que uma nova lógica com
relação ao docente de EaD está se formando e pode ser facilmente identificável,
Para elucidar ainda mais essa tese destaca-se
Belloni (2008, p. 82).
A perda da posição
central do professor e de seu estatuto de “mestre” e sua nova posição de
parceiro de prestador de serviços, recurso ao qual o aluno recorre quando sente
necessidade, ou conceptor / realizador de materiais. Este novo professor atuará
diante de um novo tipo de estudante, mais autônomo, mais próximo do usuário /
cliente, que do aluno protegido e orientado (ou controlado) do ensino
convencional.
3.3 AS PRINCIPAIS FUNÇÕES DO PROFESSOR
NA EAD
Neste novo sistema educacional, onde
o professor assume múltiplas funções, faz-se necessário elencar algumas das
diversas funções que este profissional da educação terá como desafio docente no
exercício de sua atividade. No entanto, cabe resaltar que não é objetivo desse
artigo ser definitivo com a demonstração desse elenco de funções, mas apenas
demonstrar o desempenho da função do novo docente na educação à distância.
Segundo o que nos exterioriza Belloni
(2008), pode-se considerar que as principais funções docentes na EAD são:
ü
Professor
formador: é o responsável pela orientação do estudo e da aprendizagem, mostra
como fazer uma pesquisa, como processar informações e como transformá-las em
conhecimento, apoia psicossocialmente os alunos.
ü
Professor
conceptor e realizador de cursos e materiais: seleciona conteúdos textuais com
base nos cursos desenvolvidos, prepara os planos de aula on line, elabora os currículos que serão desenvolvidos nos cursos,
é na verdade o responsável pela função didática.
ü
Professor
pesquisador: atualiza sua disciplina constantemente para proporcionar um ensino
de qualidade e atualizado para o corpo discente, busca novas teorias e
metodologias de ensino, reflete constantemente sobre sua pratica pedagógica,
orienta seus alunos à pesquisa sempre orientando-os de modo a contribuir com o
aprendizado.
ü
Professor
tutor: é responsável pela orientação de um conjunto de alunos de uma disciplina
a qual tem o domínio, esclarece dúvidas, faz as necessárias intervenções e dá
explicações pertinentes às dúvidas dos estudantes, normalmente participadas
atividades avaliativas.
ü
Tecnólogo
educacional: está é uma nova função neste sistema educacional, por este motivo
ainda há uma dificuldade em utilizar uma terminologia apropriada à essa função.
A criação desta função é uma tentativa de assegurar a transferência do discurso
escrito do mestre para as linguagens adequadas aos suportes mediatizados. É um
profissional que dedica a construir um sistema pedagógico especialista nas
novas tecnologias disponíveis para a realização do processo. È necessário um
amplo domínio de softwares para a produção desses materiais que serão
mediatizados durante todo o curso de EAD. A tarefa mais difícil que este
profissional encontra a promover a integração de suas equipes pedagógicas e
técnicas.
ü
Professor
recurso: esta função confunde-se um pouco com a de professor-tutor, mas, no
entanto, difere-se pela limitação que aquele assegura aos alunos responder de
imediato suas dúvidas pontuais, com relação aos conteúdos de uma determinada
disciplina. Esta função é muito específica e não é utilizada por uma minoria de
instituições em EAD.
ü
Professor-
monitor: é na verdade uma espécie de agente controlador das atividades
relacionadas com a disciplina e com a prestação de serviços dentro de uma sala
de aula de EAD. Este profissional, muitas vezes não domina a disciplina que
sendo ensinada, já que neste processo as aulas vêm prontas em vídeo aulas, que
podem ser transmitidas ao vivo, ou já estarem gravadas. Sua função é de caráter
mais social do que pedagógico.
3.4 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR EM EAD
Com as rápidas mudanças verificadas
neste novo século, uma das grandes dificuldades de qualquer instituição de
ensino é saber se o ensino por elas oferecido irá habilitar os estudantes a
exercer no futuro atividades que ainda são desconhecidas no presente momento.
De que forma o aprendente do século XIX está apto a utilizar seus conhecimentos
adquiridos para a realização de uma função no futuro ainda não existente no
presente. Talvez uma das possíveis respostas seja a de que será necessário
formar professores capazes de ensinar os jovens aprendentes a adquirir uma
capacidade autônoma suficiente para que possam continuar a aprender por toda a
vida, permitindo-lhes, desta maneira, que possam continuar sua própria formação
ao longo de sua vida profissional sem mais a interferência do mestre professor.
No ensino a distância, conforme
entendimento de Dieuzeide (1994, p. 200) conforme Belloni (2008, p. 85) pode-se
dizer que;
A formação de
professore não escapa a esta lei: estes devem, como o restante da sociedade,
levar em consideração a inovação; mas esta deve ser preparada por uma formação
adequada (...) Todo o pessoal docente deve aceitar evoluir como as outras profissões.
Pode-se perceber, desta forma, que o
professor em EAD deve ter sua formação voltada para a inovação tecnológica com
sua devida consequência pedagógica de forma continuada dentro de uma
perspectiva de formação ao longo da vida. No entanto, como paradoxo dessa
necessidade formativa deste novo perfil do professor em EAD, existe a
necessidade de grandes investimentos por parte das instituições de ensino que
se lançam nessa atividade, pois se faz necessário a integração de novas
tecnologias e profundas mudanças no sistema educacional do ensino superior
responsável por essa nova formação.
Toda ou qualquer melhoria ou inovação
que se faça necessária em educação passa necessariamente pela melhoria e
inovação na formação dos professores. Há a necessidade de que novas
perspectivas e novas competências serem desenvolvidas para uma proposta que
permita a formação reflexiva e transformativa desse novo professor que precisará
desenvolver a pesquisa e reflexão sobre sua própria prática educativa, e, terá
que ultrapassar o mero discurso retório para conseguir atender às rápidas
mudanças da sociedade, não só no âmbito científico e econômico, mas
principalmente no meio social e no convívio do ser humano.
Dentro desta linha de pensamento,
Bladin (1990) apud Belloni (2008) acredita que os professores do EAD terão que
desenvolver competências em quatro grandes ares:
ü
Cultura
técnica: domínio nas tecnologias que serão responsáveis para a realização da
mediatização com os alunos.
ü
Competências
de comunicação: com a mediatização a difusão do suportes de comunicação habitua
os estudantes com uma certa qualidade comunicacional mediatizada, exigindo do
professor que sai de sua solidão acadêmica e aprenda a trabalhar em equipes de
formadores desenvolvendo habilidade interpessoal.
ü
Capacidade
de trabalhar com método: sistematizar e formalizar metodologias integrativas,
necessárias para o trabalho em equipes.
ü
Capacidade
de traduzir: poder exteriorizar seus conhecimentos de modo que outras pessoas
possam aproveitá-los, e como retorno poder aproveitar os saberes de outros
formadores possibilitando o construtivismo do saber.
Do ponto de vista ético, a formação
dos novos mestres para EAD, adequados a nossa contemporaneidade e ao futuro
próximo, precisa atender a necessidade de rápida atualização nas três dimensões
conhecidas da educação: pedagogia, tecnológica e didática, também presente no
ensino presencial. Considera-se, portanto, uma perspectiva mais global, pois a formação
de professores em EAD ultrapassa fronteiras nacionais, culturais e sociais,
necessitando desenvolver habilidades que possam ser compreendidas em um
consenso generalista.
A EAD, no entanto, deve seguir os
princípios da ética educacional, e penetrar no mundo dos caminhos e descaminhos
do conhecer, possibilitando a reflexão do aprendente e permitindo a este que
crie utopias paradigmáticas em sua mente na busca de um mundo melhor,
independente e autônomo, para libertar nosso planeta, essa grande aldeia
global, de todo e qualquer preconceito social, econômico, racial, religioso e
moral. Que possa permitir ao ser humano a escolha de seu livre arbítrio e que
os conhecimentos adquiridos possam se transformação em ações benéficas e
possibilitem o fim de todas as guerras e conflitos (MORIN, 2002).
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação a Distância necessita de um novo olhar sobre o
trabalho cotidiano e suas características,
sobre o papel do professor e do aprendente. O professor deve ser visto como
o mais importante ator nesse processo, pois deve estar superior ao papel de um
simples usuário de programas e produtos de outros atores, reafirmando seu papel de educador na sociedade cada vez mais
complexa. O professor deve ser reconhecido pelo seu valor da experiência direta
na arquitetura da construção cientifica e humana para a transformação plena em
conhecimentos que se tornarão, por sua vez, ação social.
Há de se ter a certeza de que a
observação e análise da prática docente, associada a pesquisa, podem
proporcionar ao novo arquétipo docente o importante papel da compreensão
mediatizada da aprendizagem e das estratégias cognitivas facilitadoras do
entendimento, da busca e transformação das informações em conhecimentos pelo
sujeito aprendente.
Entretanto, muito caminho ainda há a
percorrer nesse processo no EAD, sendo necessária a maturação da discussão da
ótica docente dentro deste novo paradigma educacional que se torna cada vez
mais utilizado pelos estudantes que dele participam. Esse modelo apresenta
diversas matizes do optar por um caminho a percorrer, mas desse modo se está
garantindo a responsabilidade com o conhecimento e os processos mediatizados
que possibilitam sua compreensão e sua prática.
REFERÊNCIAS
BELLONI, M. L. Educação a distância. Campinas: Autores Associados, 2008.
FIORENTINI, L. M. R. MORAES, R. A.
M. Linguagens e interatividade na
educação a distância. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
FREIRE, P. A educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1969.
LUCKESI, C. ET AL. Fazer Universidade: uma proposta
metodológica. São Paulo: Cortez, 2012.
MORIN, E. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2002.
PETRI, O. ET AL. Educação a distância. Brasília: Liber
Livro, 2005.
SILVA, A. C. Aprendizagem em ambientes virtuais: a educação a distância. Porto
Alegre: Mediação, 2009.
[1] Autor - Pós-Graduado em Educação à Distância: Gestão e
Tutoria pela UNIASSELVI – Centro Universitário Leonardo da Vince.
[3]
Mediatização – Neste artigo, utilizar-se-á a definição de mediatização como
sendo a intermediação das tecnologias disponíveis, internet, internetização das
mídias de massa, outros meios tecnológicos e suas relações sociais de
identidade que o professor utilizará para transmitir informações que possam ser
transformadas em conhecimento.
[4] AVA –
Ambiente Virtual de Aprendizagem, são plataformas tecnológicas que são
disponibilizadas aos alunos que têm acesso através de um Login e de uma Senha
para entrar nesse ambiente.
[5] TICs –
Tecnologias de Informação e Comunicação.
[6] ICQ
- é um programa de comunicação
instantânea, este acrônimo foi feito com base na pronúncia inglesa I seek you que significa “eu procuro
você” (tradução livre), que pertence a companhia Mail.ru Group.
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