sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A DIDÁTICA EDUCATIVA E A PÓS-MODERNIDADE
 


           Desde o início da modernidade no Século XVII, o discurso científico ocupa o espaço até então da Escolástica e condicionará as hipóteses sobre a questão da transmissão do conhecimento.  Galileu Galilei, um dos inauguradores da ciência moderna e que define a natureza como um livro escrito em caracteres matemáticos, e, acrescenta que sem um conhecimento dos mesmos, os homens não poderão compreendê-los. Prosseguindo essa linha de raciocínio, pode-se observar que a ciência tem constituído cada vez mais o conteúdo ensinado pelo discurso didático e que dessa forma, toda a formalização não científica é de imediato imaginarizada, como sendo um conhecimento de segunda classe. A tendência do homem em buscar uma única verdade acaba por segregar o antigo discurso escolástico que um dia já foi um dos pilares da educação.
           Este ensaio não tem por objetivo defender a didática educativa escolástica, até porque, esta defendia a garantia da verdade em Deus, o intelecto divino, o modelo e a garantia para toda exposição do saber. Mas se por outro lado, desconsiderarmos esse princípio básico e utilizarmos apenas seus princípios de apresentação didática, podemos perceber que a escolástica numa proposição inicial, sugeria a enumeração dos pontos a serem discutidos e da proposição dos argumentos contrários à primeira tese, o que resultaria no enunciado de uma proposição contrária. A partir daí, processava-se a discussão do problema de modo a conduzir ao estabelecimento de relações entre o problema e outros assuntos, para atingir, desta maneira, a resposta às objeções iniciais. Era na verdade uma tentativa de metodologizar o processo de transmissão do conhecimento. Ao meu ver isso já era uma espécie de transposição didática, só que com outra denominação.
          O educador dessa modernidade científica sugere um modelo de professor que foi sendo construído ao longo dessa fase que é o que tudo sabe, bem como o modelo de aluno é aquele que, nada sabendo, tudo aprende com seu professor.  Esse paradigma esta superado, nenhum educador atualmente concordaria com essa definição de professor, pois a modernidade já passou, estamos em outros tempos, na pós-modernidade. Conforme Zigmunt Bauman, hoje não existe mais um modelo certo para educação, pois esta se constrói juntamente com a necessidade de cada sociedade. O saber deixou de ser percebido como uma conquista para enquadrar-se como uma aquisição, de modo que não exista nada definido, mas sim se busca por uma adequação. Todo pensamento, toda ordenação, todo ensinamento é a partir deste arquétipo certo ou errado. Entretanto, a questão sobre o modo como se processa a transmissão do conhecimento está além do que podemos definir como o que é aprendido. As palavras e os gestos marcam simultaneamente o modo de expressão do que desejamos transmitir ao outro, e a impossibilidade de nos tornarmos absolutamente ininteligíveis para ele. Resta a nós professores, pois, pensar, em que sentido essa concepção pode acrescentar algo para aqueles que aprendem.
 
          A didática Educativa é um universo que engendra uma série de possibilidades que vai desde a discussão sobre qual é a sua verdadeira essência, o que é educação? Qual é o saber que um sujeito necessita possuir, o que a educação deve ensinar e para quem? A didática deve percebe que o saber é um espaço construído dentro de uma imensidão, seja na filosofia, seja na ciência ou mesmo na religião. A Educação é uma essência sempre inefável, que pode ser apenas circunscrita e nunca será da ordem do preciso.

           A Didática como arte, vista por Comenius transforma-se numa técnica, novas metodologias de ensinar são geradas a cada dia, mas não podemos deixar de lembrar que a mensagem transmitida nunca chega ao receptor na plena forma em que foi emitida, citando Rousseau, me permite dizer é que o homem produz um mal-entendido na natureza, que somos frustrados em nossa esperança de alcançar a perfeição da intenção, uma espécie de ruptura entre a palavra e a coisa e que se expressa na impossibilidade da primeira recobrir de modo pleno a segunda. Portanto não existe uma imagem ideal do ser professor que corresponde àquele que é capaz de ensinar sem perda. Em síntese, antes de ser uma profissão, ser professor é uma função, uma tentativa através da didática educativa de estabelecer uma correspondência entre um ideal e o real. É diante desta constatação que me permito sustentar que a didática educativa sustenta a função de operar a ligação entre seu próprio desejo de ensinar e o desejo de um outro de saber.

Autor - Prof°. Ms. Marco Antonio Vedovelli Bottene


REFERÊNCIAS


ABRAMOVICH,  Fanny. O professor na duvida. Duvida? São Paulo: Summus, 1990.
BAUMAN, Zigmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001
COMÉNIO, João Amos. Didática magna. Lisboa: Gulbenkian, 1985.
LARROYO, Francisco. História geral da pedagogia. São Paulo: Mestre  Jou, 1974.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
LOPES, Eliane. A psicanálise escuta a educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.



 



 



 



 



 


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