quinta-feira, 26 de abril de 2012



História do Setor Bancário Brasileiro
1808 a 1944 -

Antes mesmo da declaração da Independência do Brasil em 1822, o Banco do Brasil
foi criado em 1808, marcando o surgimento do sistema financeiro brasileiro. Da
sua criação até a metade do século vinte, o principal agente do sistema era o
Banco do Brasil, que exercia o papel de Banco Central (até 1964) e o monopólio
na intermediação financeira.


As instituições financeiras que peram hoje começaram a se instalar no início do século vinte como pequenos bancos regionais atuando ao lado do Banco do Brasil e de bancos estrangeiros,
na maioria britânicos.


1945 a 1963 -
Em 1945 número de bancos comerciais já era de 508. Surge a necessidade de um
maior controle do sistema e o governo cria a SUMOC, Superintendência de Moeda e
Crédito foi criada para controlar o mercado monetário e prepará-lo para a
criação de um banco central. A Sumoc implementou medidas para impedir a criação
de novos bancos, através de políticas restritivas à concessão de licenças para
criação de novas instituições financeiras e do encorajamento de fusões entre as
já existentes . Isto diminuiu o número de bancos para 336 em 1964. Todavia,
mesmo depois disso o sistema financeiro continuou a crescer, mas desta vez pelo
aumento do número de agências dos bancos já existentes.


Com a taxa de juros tendo um teto controlado pelo governo, a opção mais lucrativa para os bancos era aumentar o número de agências, para ganharem no volume de transações e recursos. Essa
política de taxa de juros, impediu qualquer contrato de crédito de cobrar uma
taxa maior que 12%.


Na prática, essa lei estabeleceu um custo de captação de 6% para os bancos e um retorno de 12% na concessão de crédito. Conforme a inflação aumentou as taxas de empréstimo ficaram muito
atrativas para os clientes, o que aumentou a demanda. Todavia os bancos não
podiam oferecer taxas maiores para aumentar o volume de captação e assim poder
satisfazer a demanda.


A única alternativa para aumentar o volume de recursos captados foi oferecer serviços para atrair novos clientes e expandir a rede de agências para abranger novos mercados. Essa estratégia,
aliada ao crescimento econômico, aumentou o número médio de agências por banco
de 2,6 em 1945 para 17,6 em 1964.


Outra característica do setor bancário no Brasil até os anos 60 era a limitação da participação no
crescimento econômico, devido a política de substituição de importações, a qual
encorajava a produção interna de produtos semi duráveis.


A produção nesse modelo econômico era financiada pelo capital dos empreendedores e das empresas estrangeiras que se instalavam no país, desse modo o sistema de intermediação financeira e geração
de recursos era adequada para uma estrutura de produção fragmentada com muitas
empresas precisando de baixo volume de recursos.


1964 a 1969 -

Depois de alguns anos de recessão no início dos anos 60, o governo começou a
procurar um modo de aumentar a popança interna. Em 1965, apenas 2,9% da
poupança interna bruta era resultado da captação dos bancos enquanto que a
média na América Latina estava entre 10 e 15%.


Para isso um novo sistema financeiro era necessário, sem taxas de empréstimos estabelecidas por lei. Foi feita então uma reestruturação do sistema financeiro através da Lei da Reforma
Bancária de 31 de dezembro de 1964 ( lei 4595).


Dentre as principais mudanças estabelecidas por essa lei foram :

- o fim do limite máximo de 12% para as taxas de juros

- criação do SFH ( Sistema Financeiro de Habitação)

- incentivos para a fusão entre bancos ( os bancos só podiam aumentar sua rede fundindo-se ou adquirindo outro banco, não era permitida a abertura de agências novas)

- criação de novos tipos de instituições financeiras ( bancos comerciais, bancos de investimento,
corretoras, etc)


- criação do CMN ( Conselho Monetário Nacional) e do Banco Central

O resultado da reforma foi a concentração e o aumento do volume de ativos. Em 10 anos os ativos passaram de US$ 22 bilhões para US$ 173 e o número de instituições passou de 320 para 105.
Foi nessa época que , pela primeira vez os bancos brasileiros cumpriram seu
papel original, emprestar. A proporção das operações de crédito em relação ao
total de ativos passou de 49% em 1965 para 69% após 10 anos. O maior incentivo
para isso foi a instituição da correção monetária, que fez com que as operações
mais longas também se tornassem lucrativas, independentemente da taxa de
inflação.


A crescente necessidade de financiamento do setor público fez com que o governo tivesse uma grande participação nesse crescimento. Como a inflação tinha que ser controlada, as
despesas do governo não podiam ser financiadas pela emissão de moeda. O déficit
público passou de 4% do pib em 1970 para 7% em 1975 e 35% em 1998. Para colocar
no mercado esse número crescente de papéis o governo foi obrigado a aumentar as
taxas de juros para que seus títulos fossem atrativos. A participação desses
títulos nos ativos dos bancos passou de 5% em 1975 para 49% em 1989.


1970 a 1988 -

Durante os anos 70, com a inflação crescente os bancos passaram e ter a receita
de floating, ou seja, a receita obtida pela captação sem correção monetária e
da aplicação dos recursos em trânsito em operações, com correção monetária,
onde o banco ganhava na arbitragem. Entre os maiores beneficiados estavam os
que atuavam no segmento varejista, que tinham grande volume de recursos.


Assim era lucrativo aumentar os passivos (captação). Para isso os bancos usaram estratégias baseadas na isenção da cobrança de taxas e aumento do número de agências.

Como esse receita era muitogrande os bancos não se importavam muito com seus custos operacionais, nem com a concessão de crédito. As carteiras de crédito eram pequenas e os
departamentos de crédito em geral pouco desenvolvidos, uma vez que a aplicação
de recursos em operações de tesouraria, ou seja em títulos, eram muito mais
rentáveis. O importante era ter agilidade para poder aplicar rapidamente e da
maneira mais rentável possível os recursos captados. Da necessidade da
velocidade surgiu o desenvolvimento da tecnologia bancária.


1989 a 1993 -

Em 1989 o Banco Central publicou a resolução 1524, que criou os bancos
múltiplos. Isso permitiu que as instituições financeiras menores, como
corretoras, tornassem-se bancos e estimulou a abertura de novos bancos, já que
a única exigência era ter patrimônio líquido de US$ 7 milhões. Como
conseqüência o número de bancos passou de 106 em 1988 para 218 em 1990.


Os bancos iniciaram nessa épocasua luta pelo aumento de eficiência, prevendo o fim da inflação e
consequentemente da receita de floating. O número de funcionários passou de
824.316 em 1989 para 664.562 em 1994 e aproximadamente 450 mil em 1997, o que
também foi possível devido aos investimentos em tecnologia que os bancos foram
obrigados a fazer.


1994 a 1999 -

Depois do Plano Real, em 1994, os bancos começaram a cobrar tarifas pelos
serviços que prestavam e rapidamente aumentaram suas carteiras de crédito de
modo a compensar a perdas das receitas de floating.

Com o plano Real e a estabilização da economia os bancos tiveram que rever suas estratégias de
atuação pois a receita de floating que existia antes desapareceu. Havia a
necessidade de fontes de receita alternativas. Os bancos começaram a cobrar
tarifas e aproveitaram o aumento da propensão a consumir da população, a qual
estava ávida por comprar, principalmente bens duráveis e semi–duráveis, como
eletrodomésticos por exemplo, para expandirem suas carteiras de crédito.
Todavia a falta de tecnologia para esse tipo de transação e a expansão pouco
cautelosa das carteiras de crédito, trouxe para os bancos um novo problema , a
alta inadimplência.


Em 1995 alguns bancos quebraram por não suportarem as perdas, outros viram seus resultados diminuídos por causa das perdas e da necessidade da criação de provisões para absorver novas perdas.



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Discriminação

 

 
1994

 

 
1995

 

 
1996

 

 
1997

 

 
Bancos Comerciais e Caixas Econômicas

 

 
35

 

 
37

 

 
40

 

 
36

 

 
Bancos Múltiplos

 

 
209

 

 
203

 

 
192

 

 
180

 

 
SCTVM (Corretoras)

 

 
285

 

 
271

 

 
255

 

 
202

 

 
Bancos de Investimento

 

 
17

 

 
16

 

 
23

 

 
22

 

 
SDTVM (Distribuidoras)

 

 
374

 

 
329

 

 
283

 

 
236

 

 
Total

 

 
920

 

 
856

 

 
793

 

 
676

 


Fonte : Lopes Filho/ Bacen
(Elaboração:Andima)


Outro fato que os bancos não anteciparam foi o aumento dos depósitos compulsórios para as captações e acriação de um depósito compulsório para as operações de crédito, que hoje não
existe mais. Isso aliado a falta de liquidez no mercado no início de 1995,
aumentou as taxas de juros dos empréstimos a clientes, aumentando o nível de
inadimplência. Nessa época dois bancos fecharam, o Nacional e o Econômico.


O ano de 1996 foi caracterizado pela queda das taxas de inadimplência e a redução dos depósitos compulsórios. As operações de crédito aumentaram novamente, tendo como resultado um aumento
das receitas


Em 1997 ocorreu a Crise da Ásia,
que reduziu a lucratividade no ano, a qual, em condições normais seria muito
acima da média dos outros anos.


Em 1996 os bancos de varejo investiram em tecnologia de concessão de crédito, sendo que em muitos casos só a partir desse momento que passou-se a utilizar técnicas como credit-scoring.
Nessa época os bancos começaram a cobrar por seus serviços e a criar suas áreas
de administração de fundos, underwriting e outros negócios relacionados à
atividade bancária que pudessem gerar receitas adicionais para os bancos que
substituíssem as receitas de floating.


Com a economia mais estável e a mudança dos padrões de operação mais próximos aos de outros países, muitos bancos estrangeiros começaram a se interessar pelo mercado brasileiro, que além
de oferecer ainda um potencial de crescimento proporcionava taxas de
lucratividade maiores que em países desenvolvidos. Essas vantagens seriam
maiores ainda quando se levasse em conta o fato de os bancos originários de
países desenvolvidos terem acesso a recursos mais baratos no mercado
internacional que os bancos brasileiros. Com isso o número de fusões e
aquisições cresceu. Certamente é preciso que esses bancos se adaptem ao mercado
local, ou seja às normas e características do mercado entre outros. A grande
vantagem desses é o baixo custo de captação, já que os grandes bancos obtém
recursos a baixos custos no mercado internacional.


Depois da crise da Rússia em 1998, para evitar uma catástrofe maior, o CMN editou a Resolução 2.493 que autorizava aos bancos realizarem cessão de crédito com empresas não
financeiras, constituídas especificamente com a finalidade de adquirirem
créditos. Isso permitiu aos bancos venderem seus créditos inadimplentes. No
final do ano entrou em funcionamento a Central de Risco do BACEN, um mecanismo
auxiliar de controle de risco de crédito que expõe a situação de cada tomador
no Sistema. Um mesmo cliente, com operações em vários bancos, passa a ser visto
de forma consolidada na Central e, caso se conclua sobre o agravamento de seu
risco ( está inadimplente em um dos bancos), o BACEN exige provisionamento
adicional em todos os outros, mesmo que sua situação seja normal nestes bancos.
Isto provocou um aumento no volume de provisões no Sistema, gerando um efeito
positivo para a segurança bancária.


No início de 99 a taxa cambial deixou de ser controlada pelo governo e o dólar subiu chegando a R$ 2,15. Muitos bancos tiveram grandes lucros por terem dólares em sua carteira ou pela
valorização de seus ativos no exterior.


Em janeiro de 1999 foi reeditada a M.P. 1807 que produziu efeitos através da redução das alíquotas do PIS de 0,75 para 0,65 e Contribuição Social de 18% para 8% sujeita a um adicional de
4% para os meses de maio a dezembro de 1999 além da permissão da compensação
dos créditos tributários da CSLL à alíquota de 18%.



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Alíquota Bancos até dez 98

 

 
Alíquota Bancos a partir de jan
  99

 

 
Legislação

 

 
PIS

 

 
0.75%

 

 
0,65%

 

 
COFINS

 

 
0%

 

 
3%

 

 
MP 1807/99, lei 9781

 

 
Contribuição Social

 

 
18%

 

 
12%

 

 
lei 9477/99 ou 9744

 

 
Imposto de Renda

 

 
35%

 

 
35%

 

 
site da Receita Federal

 


Através da edição da Lei 9718/98 a partir de fevereiro de 1999 as instituições financeiras passarão a contribuir para o financiamento da seguridade social (COFINS) à alíquota de 3% sobre o
Resultado Bruto da Intermediação Financeira. Este custo recai integralmente
sobre os bancos, que não recolhiam anteriormente quando a alíquota já era de
2%.

A alta taxa de juros permaneceu, o que fez com que os bancos preferissem aplicar seus recursos em títulos do governo, que são mais seguros que as carteiras de crédito, as quais estão mais
suscetíveis a perdas devido à atual situação econômica.


Principalmente a partir do início do segundo semestre de 1999, o governo sinalizou com uma tendência de queda na taxa de juros. Esse fato, aliado à queda das alíquotas de depósitos
compulsórios, fez com que alguns bancos já anunciassem um crescimento, ainda
cuidadoso, em suas carteiras de crédito e uma diminuição nas taxas cobradas nos
empréstimos aos clientes.


GRIECO, Glaucia. Disponível em: http://glauciagregio.tripod.com/historic.htm
Acesso em: 16/04/2012.





Um comentário:

  1. Muito bom professor gostei muito da matéria sobre os bancos,aprendi coisas que não sabia,serei um frequentador assíduo.É uma honra tê-lo como professor...Um grande abraço.


    José Roberto Garníca.

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